Noite insone (Poema para dormir)
Nada na noite, a não ser insônia e um pouco de chuva... Há um frio inexplicável e uma quietude inimaginável, se não fosse tão real... Ouço ruído e um calafrio percorre o corpo... A rua se molha lentamente num banho de meia noite... Masturba-se a madrugada inteira... Existem desejos e muito mais do que isso, existem os receios... Eu quero falar de um lugar lindo e pisar seu corpo de paisagem perfeita... Sonhar construções, vindas de um engenho que não conhece fronteiras... Mas as fronteiras existem... E o engenho está apenas sem conhecê-las e por isso continua seu progresso de natureza matinal até o crepúsculo vermelho...
Eu quero ter nas mãos, toda poeira do meu refúgio, quando necessário... Sou missionário de uma missão longa, mas que ainda não conheço... Sou dicionário para um povo ignorante, mas muito sábio do avesso... Amanhã terei mais noites de chuva e como tantas já passadas, molharei junto a elas meu corpo sedento de justiça... E farei minha casa no alto de um morro, para ver lá de cima, toda beleza que tenho aqui embaixo... Sou dono do meu mundo e no fundo do meu quintal, há uma sombra aconchegante em que posso exaltar toda essa posse... Sou um pouco do meu nada e um todo do meu tudo... Tenho muitas coisas e todas cabem no meu peito... Misturam-se com meus sentimentos, mas se dispersam quando é preciso...
Eu quero poder andar no meu lugar, com toda serenidade que transmite minha paz... Quero tê-la sempre para vencer a guerra que me traduzem os invasores... É preciso que eu me mantenha intacto, no meu mato e no meu vento balançando os galhos das árvores que plantei e em cujas raízes agarradas ao chão, agora me deito... É preciso que eu proteja meu território na noite que acorda na chuva e no dia que dorme estirado ao sol, lambendo os lábios que se ressecam com a sede que as horas a fio, lhe proporcionam... Eu preciso de uma aventura, dentro minha vontade de ter minha vida para sempre... Serei sempre essa persistência e existência convicta de que o mundo é muito mais do que vivemos... É sonho, é realidade, que criamos sem perguntar, sem pedir licença a ninguém... Vale o mundo que obedecemos segundo nossa ânsia de construí-lo e vivê-lo.