Intimidade XII

Foi no silêncio gritante, na noite escura da alma, entre a entrega definitiva para o fim, e a possibilidade do recomeço, que me vali da compassividade, da humildade, da cessação dos sentidos da audição e visão para a dor, e abertura deles para o amor incondicional. Pude enxergar a estrada que conduzia ao recomeço.

Este forasteiro, sem bater, passou afoito pela porta de entrada da casa, invadindo todos os cômodos, encerrando o espetáculo sinistro , o "mi, mi, mi" fanfarrão que nutria o vagabundear na tristeza, na angústia que alimentava em gotas homeopáticas .

Como aguardente para o fogo, pelas emoções negativas, regava o entendimento para continuar sendo triste, negativa, "reclamona", vítima, fracassada, decadente.

Possuída, totalmente subjugada pelo sentimento amoroso gratuito, foi apresentado o espelho, o do pequeno cosmo que vivia, que nada é meu.

Sendo ou não como antes, não deixaria de me lembrar nos dias que existe o "perfume" atrativo de "Deus", o amor acima de todas as coisas, na sua forma onipresente, onipotente e onisciente.

O amor incondicional em Deus, à vida, aos seres, e aos meus irmãos , indistintamente, é o desafio que o coração coloca ao entendimento para processar como meio de vida.

Mas! Depois da experiência vivida no "id" da alma, experimentando com fartura do amor genuíno, me foi concedida a alforria, a aceitação da vida como ela é, acolhendo-a pacificamente.

Ser ou não : hipócrita, faceira, fingidora, comigo e com o mundo, exposta ao desafio proposto pelo ego, do usufruir os dividendos pelo uso da imagem de "boa samaritana ", ou a busca de retorno por agradar "gregos e troianos", passou ficar medíocre pensar, mesquinho, jogo inútil para quem foi virada ao avesso, não encontrando nada, a não ser o Eu Sou , Deus, que habita em TUDO.

Fama e notoriedade? Um estrago! a mistura do gosto aqui dentro não passaria de uma comida requentada e insossa, em ultima hipótese, artista, como que aquelas de entretenimento circense, até mesmo de uma bípede, parecida com uma esperta macaquinha .

A comida que degusto, para ser saborosa para alma, pede doravante meu compromisso com o ser natural, espontânea, agir no instante, não tomando nada como meu.

Afinal! o corpo que habito, e todos seus agregados, a consciência que faço uso para a busca da compreensão do que sou, de onde vim, para onde irei, o mundo que vejo, que apalpo, que cheiro, que degusto, que ouço, "Não É Meu".

Até mesmo as palavras que pulverizo nas aventuras criativas, não são minhas, tiveram como ingredientes conheceres da cultura e alma que porto, da sabedoria sagrada que nossos irmaos mais evoluidos no caminho deixaram conosco.

Nada é meu, o que uso e falo estão "emprestados" até quando o encerrar do espetáculo for sinalizado com a morte do corpo. Minha natureza é transitória.

Depois do dito, que chifre que teria dos pensamentos para ser dominado?

O jeito é ser natural, deixar fluir, encontrar a autenticidade genuína. Mas como? Teria método a ser seguido?

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 21/08/2017
Reeditado em 21/08/2017
Código do texto: T6090628
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