LUZ UNIVERSAL
Sei que vi a luz, com toda clareza.
Não veio da janela, jogada para dentro do quarto pelos postes em procissão imóvel, e taciturnos diante da monótona missão a que se destinam, nem da lua, ao longe, esforçando-se para empurrar-me um minguado feixe de claridade por entre nuvens e estrelas sonolentas.
Também não veio da luminária do quarto, refletida no teto, nas paredes, no chão, na quimera de manter-se acesa por toda a noite.
Sei que não, porque meus olhos estavam fechados.
Sequer não foram os micropontos de luz debaixo das pálpebras, resquícios de toda claridade agora extinta.
Definitivamente, não foi qualquer luz material criada pela mão do homem ou força da natureza.
Cerrei a cortina, apertei o interruptor, fechei os olhos. Daí surgiu a luz. O avesso da escuridão que provoquei.
A luz, por vontade, invadiu meu corpo, expandiu-se pelos meus poros, consumiu-me. Eu já não existia sequer em pensamento.
Consciente de ser luz, atravessei a encoberta janela, ultrapassei a minguada lua, fundi-me ao universo.
Quando era tudo-e-nada, fui tragado por um fio elástico de volta a mim. Acendi a luz do quarto e assustei-me com a escuridão da realidade humana.
Mas agora estou seguro. Após cerrada a cortina, apertado o interruptor e fechados os olhos, ilumino a escuridão da minha realidade com a luz da consciência interna e universal.