Prá que correr?
Andamos pela estrada sem fim da vida e, de repente, eis que se ouve a voz do parceiro: “vamos, corre! Anda logo!” E replico: “prá que correr?”
Sim, prá que correr? Nossa vida é tão curta, devemos aproveitar ao máximo todos os minutos de nossa existência. Por mais que corramos, o tempo é mais rápido e logo envelhecemos sem sentir, vamos encarquilhando-nos e antes que nos apercebamos, já somos trapos de nós mesmos.
Prá que correr? Haverá tanta pressa a ponto de nos querermos transformar na última imagem do que fomos ou do que tentamos ser? Não, devemos viver cada segundo desta vida, agarrar-nos a eles, prolongá-los até não poder mais, impedir que passem.
Será que a palavra “pressa” é a única dos dicionários? A vida foi feita para ser gozada com prazer, saboreada bem devagar, sentida em todos os seus gostos. A vida pode ser dura, mas é vida.
Ora, não insista, jamais correrei! Quero seguir minha regra de viver e, quem não gostar, não faço caso. Prá que correr? Desejamos uma coisa, queremos chegar a ela o mais depressa possível e tudo para quê? Quando a alcançamos, já queremos outra e nossa correria continua, fica eterna sem que possamos evitar.
Se quer correr, vá, ande logo, passe-me e siga seu caminho. Eu jamais me apressarei. Corra, vá depressa, chegue aonde quer chegar, alcance seu cume tão desejado e, ao alcançá-lo, lamente-se bastante. Sofra com as saudades do caminho percorrido.
Voltar...é impossível!
In “Traços e Troças”
Ed. Lamparina Luminosa, S. Bernardo do Campo, SP, 2015