A ALMOFADA
Andava triste. Ninguém sabia porquê. O curioso é que nem mesmo ela sabia.
Rita tinha 30 anos e era uma mulher bonita. Seu olhar parecia ter luz e o sorriso quase que escondia o perfume do amor. Mas tudo parecia deluir.
Dela, nunca alguém conheceu um namorado sequer. E ninguém entendia porquê afinal, o seu encanto era irresistível. Por dentro e por fora.
A mulher com sorriso d’luz e olhar d’amor não descurava a leitura de um bom livro de poemas, um dos seus passatempos preferidos, dentre tantos... que faziam dela uma mulher apaixonada pela arte.
- Ah, belos tempos de infância!- Exclamou certa vez.
Rita enquanto menina era cabeça de cartaz do grupo teatral infatil na escola primária do bairro da sua infância. Aliás, nunca de lá saiu. Certo dia, Rita conseguiu trabalho. A lanchonete da Vila Esperança nas redondezas do seu bairro seria doravante mais uma das suas ocupações. O trabalho consumia boa parte do seu tempo. Mas não era nenhum obstáculo às suas pretensões de vida.
Numa noite depois de mais um dia de trabalho Rita aproximou-se da varanda de casa. O luar bailava sublime e as estrelas embalavam no compasso do tempo. Não tinha como ficar indiferente.
- Como nos velhos tempos de bailado na escola!- Pensou.
Sorriu e entregou-se ao abraço da sua almofada, companheira dos seus desabafos. Dormiu tranquilamente...
... Acordou bem disposta. Aquele sorriso que tranbordava de amor estava de volta. A luz do seu olhar resplandecia. Como nunca! E só ela sabia porquê. Ela e a sua almofada.
Assim chegou à lanchonete. E todos tentavam perceber a razão daquela reviravolta.
Há muito que Rita trocava olhares silenciosos e de cumplicidade com Ricardo. Pairava no ar a chama do amor. O coração de Rita ardia e clamava por felicidade.
Ricardo frequentava a lanchonete da Vila Esperança. E intensificou as suas presenças ao local, desde o primeiro dia que a ternura dos seus olhos deixou-se aprisionar pelos raios de luz dos olhos de Rita.
Dos olhares à correspondência foi uma distância ténue. Rita e Ricardo casaram-se. D’aliança brotou uma flor bela e carinhosa: Florbela. A luz do olhar de Rita renasceu e o perfume d’amor do seu sorriso preenchia o espaço. Com mais intensidade! A felicidade alojou na imensidão do seu encanto. E hoje, Rita descobriu por que andava triste.
- O amor de Ricardo é uma dádiva! - Diz ela.
E a almofada companheira de várias noites de cumplicidade?
Tem o seu espaço no coração da família e sempre vai dizendo:
- Nunca é tarde para amar e ser feliz!