Urgências de viver
Me despi de toda a angústia que me revestia o coração.
Muitas vezes o senti bem pequeno e cada vez se comprimindo como se fosse esmagado por entre minhas próprias mãos.
Esbatendo feito o ruflar das asas de um beija-flor, guardei urgências de viver...
Não há necessidade de urgências... Não posso me permitir cometer a loucura de não viver. Já dizia Saramago, "não tenhamos pressa, mas não percamos tempo." Hoje abri a porta de mim para sair para fora e olhar pela primeira vez tudo em minha volta. Volvi meus olhos para mim como quem olha para outra pessoa diversa. Sou observadora de mim, rainha de mim e é com alegria que me rio de mim! Nesse espanto de descoberta agora todos os dias saio de mim, me visto de vida, de sol e de luz. Tenho tesouras com que corto as amarras, e chaves que destranco portas, grilhões e prisões. Essa é a maior liberdade que se pode conquistar.
Bebamos a vida de um gole de cada vez
Assim não morremos de sede e nem afogados.
Para quê ânsias? Se é devagar que se ama, que se aprende e que melhor se vive.
Sem pressa... É verdade que a vida é breve e fugaz, mas não pode ser efêmera e frívola.
Tão cega de angústias e ansiedades
Só tenho esperado a vida... enquanto a vida me esperava. Essa é a lei do universo. As forças na maioria das vezes estão no sentido contrário e por isso não se atraem. No entanto fui eu a única responsável que não soube em que direção os ventos sopravam, para ajustar as minhas velas. Atraquei no porto do medo e aqui estou no meu conforto ocioso esperando a hora certa para voltar ao mar.
A vida renasce todos os dias como o Sol
e todo dia é um eterno presente
Um presente que me retira do sofrimento da suspensão do tempo.
A maldição do tempo, fio tecido pela mão da vida e cortado pela mão da morte. Unidas as pontas, fazem do tempo a breve eterna existência humana.
Vi nos meus olhos a vida bem na minha frente me esperando para acordar dos sonhos em que me enredaram as ilusões. Acordei de um sonho em que me vi sentada mergulhada em mim, sem encontrar a luz, só uma imensa escuridão vazia, aguda, cortante e ácida que me consumia. Bem no fundo da densa treva criei uma esperança. Por medo de matá-la, a vi pregada a mim, Ela era única, viva e materializada, que estava ali por um único motivo. Salvar-me de mim mesma e mostrar-me como eu me encontraria verdadeiramente. Por descuido acabei descobrindo que eu sou a luz das minhas trevas. Minha escuridão existe para que eu possa fazer a minha própria luz. A minha escuridão e a minha luz precisam coexistir.