Foi

Então em um ato desesperado foi, foi pois precisava ir, precisava desgarrar-se da terra a que pertencia desde que percebeu-se. Correu em rumo a ela, a grande dona de mim, de nós e dele. A selvagem liberdade de um dia descobrir ser.

Foi porquanto descobriu a verdade: Ir é verbo, e o passado e o presente o distorcem, enquanto confundem-se em um ritual que clama com um grito de euforia. Foi porque estava deveras apaixonado pelo mundo e seus mistérios, não posso culpa-lo afinal, pois para ir é necessário ter coragem, coragem para jamais arrepender-se de não poder voltar, pois quando se vai, se esvai e se perde, para que novamente volte a se preencher. Foi porque Ir e ser trocam de lugar enquanto o mundo se move e essa verdade o fazia morrer todos os dias.

Ir enche-nos de dor e coragem e jamais imaginei que ele queria sentir essa dor. Sua mãe ainda o procura no escuro da noite, enquanto seus irmãos dormem, mas por dentro sabe que o que ele era ante não voltará mais. Os perigos de se permitir ir são caros e cheios. Ir cega e ao mesmo tempo parece ser claro como o amanhecer.

Um dia ainda irei assim como ele foi e sentirei a dor que prevejo em meu futuro, contudo preciso ir para tornar-me, não mais a inocência intocada de antes, mas sim a maturidade de mim. Um dia irei para enfim ser, ser algo que ainda não toquei com minhas magras mãos, algo que ainda não me é permitido tocar e só observar, pois quando eu tocar me transmutarei e finalmente chegarei ao fim de mim, chegarei em nossa esperada morte, em minha sonhada liberdade.

Klethon Gomes
Enviado por Klethon Gomes em 14/08/2017
Reeditado em 14/08/2017
Código do texto: T6083964
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