Um olhar no sertão
Olhei o sertão, senti gosto de chão;
cheirei capim seco e furei as mãos nos espinhos.
Vi saudades e lamentos no pinho seguro e tocado por dedos finos.
Eu vi o sertão como um pedaço de pão e chorei uma chuva.
Espalhei sementes; nasceu a tarde árdua
e todas as faces pálidas nas janelas de casas de barro e bambu.
Eu vi o mundo nu, assolado pela fome,
fatigado pelos escombros que a miséria deixa acontecer;
e deu-me dores no ombro, de carregar tanta gente na mesma emoção.
Lamento o que não pode ser; lamento não ser todo mundo igual.
Pelo menos teríamos repentes solitários;
vacas magras num pasto que se foi; panelas de barro e colheres de pau mexendo algo verde-amarelo e amargo.
E teríamos um punhal para furar cactos e aparar pedaços de madeira. Seríamos sertanejos ao pé da serra, caminhando a caatinga, balançando a moringa quase vazia;
e olhando a distância, mais vazia que a moringa; e então os olhos cheios d água, mirando uns aos outros;
e a boca movendo devagarzinho, mas sem dizer nada.
Eu vi o sertão com a força do sobrevivente e caí no chão da cidade cheia de gente. Gente ignorante, mais seca que o sertão.