A ROÇA
A CANCELA DA VELHA ENTRADA ESTÁ ESBRANQUIÇADA, ARRIADA A FAZER UM BURACO NO CHÃO.
A ESTRADINHA QUE LEVA À CASA, ESTÁ TOMADA PELO MATO FAZENDO-A QUASE DESAPARECER.
A CANCELINHA DA CASA, POR ONDE RECEBÍAMOS FELIZES OS VISITANTES, TAMBÉM GASTA, NOS CONDUZ AO TERREIRO, TOMADO PELO MATO QUE AVANÇA, SEM OBSTÁCULOS, ATÉ ÀS RACHADURAS DE UMA CALÇADA, HÁ MUITO, MAL FEITA E SEM REPAROS.
NO ALPENDRE, ONDE AS CONVERSAS ALEGRAVAM OS DIAS E AS ESTÓRIAS FANTÁSTICAS ILUMINAVAM A NOITE, AINDA RESISTE O VELHO BANCO RUGOSO. ACRESCENTARAM-LHE UMA MESA À ESPERA DE PARCEIROS PARA O DOMINÓ. AS PEDRAS GASTAS E SUJAS DÃO SINAIS QUE ESTÁ EM ATIVIDADE, AINDA QUE O JOGO SIGA APENAS COM DOIS.
JÁ DENTRO DA CASA, ANTES ASSEADA E USANDO SUAS MELHORES PEÇAS AOS FINS DE SEMANA, AS PAREDES SE DESMANCHAM ESBURACADAS, AS ARANHAS ENFEITAM OS CANTOS ESCURECIDOS DOS CÔMODOS AO MESMO TEMPO QUE OS MARIMBONDOS CONSTROEM SUAS MORADAS.
NA MOBÍLIA SEMPRE POUCA, DAR-SE A FALTA DA MESA EM FRENTE A CRISTALEIRA. O QUE RESTA, ESTÁ COBERTA DE POEIRA E TEMPO.
A LOUÇA É COMPOSTA DE CACOS: XÍCARAS DESBEIRADAS E SEM ASAS, CONCHAS SEM CABOS, FACAS SEM CORTE, GARFOS ENVERGADOS. SÃO PEÇAS SOLITÁRIAS, QUE COMPÕEM SIMPLESMENTE A UTILIDADE.
NA COZINHA, ANTES CHEIRANDO A GULODICES, HÁ PANELAS FRIAS, COM COMIDAS PRA REQUENTAR E VOLTAR À MESA DESAPETITOSAS.
NO FUNDO DA CASA, A CERCA RESISTE AO MATAGAL QUE AVANÇA PELA MADEIRA RESSEQUIDA, QUERENDO INVADIR O QUINTAL.
POR FIM, A VELHA E QUERIDA QUIXABEIRA, ANTES PALCO DE BRINCADEIRAS E COMILANÇAS, É APENAS UMA ÁRVORE DESGALHADA ARMAZENANDO ENTULHOS DE UMA VIDA INTEIRA, DE UMA REFORMA NECESSÁRIA QUE NÃO ESCONDE O CENÁRIO TRISTE E SEM VIDA DAQUELA CASA TÃO AMADA, DANTES, TÃO CHEIA DE VIDA.