medo

Eu te dei tudo o que eu tinha. Te entreguei todas as minhas inseguranças com a esperança de que você me ajudasse a fazer com que sumissem, mesmo sabendo que criaria altas expectativas e que não tinha como isso acabar bem. Eu confiei em você todos os meus medos com a esperança de que você me dissesse que tudo passaria. Eu dividi com você todas as minhas tristezas com a intenção de que você dividisse comigo as suas também e, assim, você não estaria tão sobrecarregado com tudo o que te atormenta. Eu quis ser pra você o que um dia foram pra mim e eu nunca consegui ser. Eu quis ser pra você tudo o que eu achei que você precisava ter. Eu quis ser sua. Por opção minha e, mais ainda, por opção sua. Eu gastei todas as minhas metáforas tentando definir o que sentia por você. E eu tive medo. Sim, eu tive medo. Inúmeras vezes eu me assustei com a intensidade do sentimento que tinha por você. Incontáveis foram as vezes em que eu me espantei ao perceber que faria tudo por você. O possível e o impossível. Estando ao meu alcance ou não. Eu entreguei nas suas mãos todo um futuro que planejei e que muitas vezes não consegui enxergar. Eu cresci quando você esteve longe e te entreguei todo esse crescimento, porque perto de você eu sou pequena. Frágil. Completamente vulnerável. E não que isso me incomode, eu nunca quis ser mais do que alguém e sempre ignorei toda essa história de orgulho. Mas talvez eu tenha ignorado demais. A verdade é que eu não sei dizer onde foi que eu me perdi pra tentar me encontrar em você. Com você. Por você. Eu te dediquei todas as minhas músicas favoritas e melosas mas nunca tive coragem de mostrar porque talvez eu pudesse te assustar. Ou talvez eu pudesse chorar diante de alguma reação sua contrária do que eu esperava. Eu desisti de todos os meus sonhos de príncipe encantado quando eu percebi que você estava longe de ser um e ainda assim eu te amava. E ainda assim você me completava. E eu não precisava de príncipe porque eles não existem. Mas eu já tinha quase 20 anos quando percebi isso. Um pouco tarde, confesso, e ainda assim foi difícil aceitar. Eu sufoquei todo o meu sentimentalismo porque eu sabia que você ia dizer que não sabia como receber tudo isso e eu nunca quis que você pensasse que não merecia o meu amor. Eu não sei te dizer se isso foi bom. E também não sei dizer se foi ruim. As vezes eu me desconheço. E as vezes eu te desconheço. E eu me perco no abismo da distância que há entre nós dois. Nós dois somos peças quebradas. Com histórias passadas. Feridas abertas que nós causamos um ao outro. Talvez tenha sido aí que nos perdemos. Talvez tenha sido aí que perdemos toda a segurança um no outro. Mas eu queria que isso não tivesse acontecido. Eu queria ter te conhecido agora. Ou talvez ano que vem. Porque, ao mesmo tempo que crescemos com tudo o que nos causamos, nos distanciamos. E isso me faz desejar que não tivéssemos nos conhecido antes. Na hora errada. Com pensamentos errados. Atitudes distorcidas. Sofrimentos absurdos. Com todo mundo dizendo que não somos bons um para o outro e me fazendo acreditar nisso em alguns momentos. Não é fácil continuar aqui. Eu não lembro quando comecei a sentir medo. Mas eu sinto. E não é fácil conviver com isso.

Beatriz Linhares
Enviado por Beatriz Linhares em 10/08/2017
Reeditado em 23/09/2017
Código do texto: T6079191
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