NOVE DE AGOSTO
NOVE DE AGOSTO
Hoje acordei, como diz o outro, virado no diabo: Olho e vejo tudo errado!
A raiva que brota dentro de mim diante do espetáculo trágico do mundo me agita até o limite. Bato e apanho sem sentir dor, anestesiado pela adrenalina que me desritma o coração. De facto, a violência pode ser um estado de espírito...
Não posso parar. Se parar, eu morro.
Onde está o erro, então, no mundo ou em meus olhos? Sou tentado a acreditar que, mesmo sendo eu humano e fraco, o mundo tem injustiças suficientes para justificar tanto ódio. No final das contas, todas as atrocidades fazem sentido.
Como não poderia ser absurdo um mundo criado por um Deus onipotente entregue a bilhões de serzinhos egoístas que passam a vida lutando para permanecer vivos? E que o fazem uns em detrimento dos outros?!
Estou cansado de esperar pelo melhor. Minha vida não dá um romance e eu não sou uma personagem conduzida por um escritor fantasma. O teatro do mundo é um palco caótico e artificial no qual indivíduos se ocupam em buscar a felicidade. Aliás, buscar a felicidade com tantos infelizes à volta parece uma ilusão coletiva mantida por mídias criadas para entreter. Nada mais.
Não serei o autor de novelas exemplares ou de historietas moralizadoras. Não escreverei sobre esperanças que eu mesmo não possuo apenas para alimentar a fé dos crentes. Não especularei sobre a natureza de Deus enquanto eu contemplo diariamente o absurdo criminoso que é a vida em sociedade. Não cabe a mim tornar digeríveis os frutos dessa terra exausta a uma multidão de famintos.
Já chega!
Betim - 2017