Tema de Lara e o Jardim de Pasternak
No tempo em que se ouvia música em fitas k7, que guardavam o encanto de passar o fio "do mundo" de um lado para o outro, meu pai conduzia a estrada ao som de Tema de Lara. Eu nada sabia sobre o amor, mas eu já era ali uma poeta apaixonada, admirando a estrada. O tempo passou e chegou aos meus olhos a película de Doutor Jivago. Eu continuava sabendo pouco do amor, mas me emocionei com o romance de Lara e Yuri, de novo ao som de Tema de Lara. Hoje, num desses acasos, vi uma foto de Lara. Não estava na Rússia, onde se eternizou no romance de Pasternak. Passeava pelas gôndolas de Veneza, em uma bela cena de amor, donde vejo que aprendi um pouco mais sobre esse universo de poesia e segredos. De ser o poeta um fingidor, a dizer com Pessoa, ou noventa por cento ser invençāo e só dez por cento mentira, a seguir com Manoel de Barros, vi Lara passeando no Jardim de Pasternak, como vem a palavra escorregadia, no dom da poesia, jardim magnânimo e distraído, devagar, devagar, devagar. No meio do jardim, havia um verso de Florbela, A mensageira das violetas: "Meus versos!... Sei eu lá também que são... Sei lá! Sei lá!... Meu pobre coração Partido em mil pedaços são talvez..."