In Signo Mortis

As pessoas geralmente se veem num fluxo de acontecimentos, sempre projetadas para o futuro, para o próximo passo. Crentes, certas de que o amanhã se seguirá, de que os amanhãs dos amanhãs continuarão a vir, para cumprir seus planos, seus desejos, suas rotinas.

Ah, minha amada... Agora que o destino te trouxe tão perto de mim, de momentos em momentos me pega pela mão e me arrasta pra fora do fluxo, com uma força que meu coração gela. Minha respiração corta e, por breve segundo, paro de sonhar. Como num instante de puro paradoxo, sinto a dádiva do presente revirar minhas entranhas.

Te via ao longe na minha infância, sonhava com tuas mãos alvas sobre meu peito, sua respiração suave sobre a fronte febril de velhas memórias da minha juventude perdida. Queria te ter tão comigo, em mim. E, por fim, eis tu. E o que achei ser desolação e silêncio é o rufar frenético em meu tímpano pela população efervescente de minhas células renais em declínio.

Assim, sou consumido pela vida, enamorado da morte, ébrio da sina. Desprezado pela sorte.

Existo In signo mortis.