Meio de tardinha...
Meio de tardinha, solão de estalar mamonas; escrevo embaixo de uma árvore frondosa de galhos verdejantes, ouvindo falar o vento chiar as folhas que remexem lânguidas, vivas como a luz do sol. Fico encostado em seu tronco, sob uma sombra geladinha de deixar a terra sob os pés fria como água fresca, e penso no quão pouco basta para se estar bem, e me rio de minha luta contra mim mesmo e toda bobagem que escrevo sobre meus desertos. A simplicidade do silêncio penetra-me com ternura na alma, e, ao clarim do raiar da tarde, um bem-te-vi canta ao longe, levando-me a sentir-me tão simples como a terra na qual piso.
Penso na vulnerabilidade das sensações, a sensibilidade externada e subjugada pelos afetos que fazem sonhos na alma, cheiros e aromas ainda não conhecidos. Um simples barulho, e somos convidados a nos vermos a sentir o pensamento criando.
Mas, já me basta de pensar! Quero apenas me estender aqui como um animal a dormir tranquilo, sentindo-me em casa, seguro pelas mãos do céu e das nuvens, cuidado e iluminado pelo grande olho tranquilo que já começa a declinar no horizonte, formando no céu uma paisagem linda, que vai sucumbindo a luz do dia pouco a pouco numa sonolência de várias cores borrando as nuvens.
Sinto-me natural como as flores, a realidade me sorri nos olhos com o brilho das folhas verdejando meus problemas interiores que pareciam insolúveis - e ainda o são insolúveis, mas agora não me perturbam, agora estão enfeitados do que vejo, parecem besteira exagerada de uma alma penada que sussurra mas não chego a ouvir com clareza.
Quem dera fosse a vida do dia a dia este silêncio nas minhas células, no chão e no céu - e não apenas o que eu sinto - e viver como quem se esqueceu de si perdido na quietude do ser!