UM BILHETINHO PARA ALINE
Ali, na outra margem,
a vida...
Ali, tua outra vida,
tua alma,
ávida por dizer velhas palavras,
já ditas,
mas de forma inédita...
Para o aflorar da poetisa
romperam-se velhos cordões umbilicais,
rolaram por terra muralhas,
transbordaram rios
e passaram dias, noites, meses, anos...
De que vale a agonia do parto
ante a visão do rebento robusto e sadio
ora exposto ao mundo...
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O Criador disse ao homem nos primeiros tempos:
“Porque pecaste, serás expulso do paraíso
e comerás o pão com o suor do teu rosto”...
Um deus qualquer deve ter dito ao poeta:
“Porque sonhaste
alimentarás tua poesia
com o suor de tua própria alma
e as dores dos homens serão tuas dores.
Estás condenado a vagar
e sempre vagar
por todos os caminhos pensáveis.
Tua própria poesia não será tua
a não ser no momento da geração
e nenhum sonho te satisfará”...
Hoje, Aline,
gostaria de te dizer:
“Traz tuas poesias aos nossos olhos apáticos
e talvez que consigas nos despertar
para essas verdades comuns
que, de tão claras,
só uns poucos homens,
entre os quais os poetas,
conseguem captar”.
Sonha e escreve,
assim viverás para além da vida...
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Bilhete escrito para a poetisa Aline Brandão no dia do lançamento do seu primeiro livro. Infelizmente não registrei a data.