Manhã em Flor
Ela adormeceu pensando nele. Em como havia incorporado ao seu fluido espiritual o majestoso universo dos seus olhos , concebendo em seus silêncios um andar harmonioso ao seu encontro.
Perante seu olhar de fêmea amorosa ele ganhara profundo realismo, transcendendo os escapamentos telúricos para que ela pudesse colher a divina flor do seu sorriso; translúcidas nuances de seus olhos, como mar resplandecente sobre o efeito das asas brancas das gaivotas na quietação da manhã branca e dourada.
Acordou com um sopro de brisa leve e morno, embebido em fino aroma de prados cobertos de violetas em floração. Doce... Doce... Doce... em sutis arranjos de harmoniosas notas primaveris.
No silêncio do seu quarto pulverizado de saudades permaneceu de olhos fechados. E, serenamente levou à face corada, ainda com marcas de travesseiro a pequena mão em concha e, colhe ainda em frescor pleno um beijo devotamente entregue pelo vento aos seus cuidados.
Sentia pulsar no peito o coração, como ave enamorada presa, batendo as delicadas asas nas grades que o prendia, louco pra ir ao encontro dele.
Enquanto se espreguiça na cama com movimentos lânguidos sensuais ouve o canto de um pássaro como delicada nota de cristal vibrando entre o céu e a Terra. Suspirou fundo com o seio a arfar, sentindo uma presença angelical com o nome dele.
Risonha na sua divina nudez de alma ergue os olhos acastanhados e no esplendor largo da íris brilha a imagem dele, soberbamente lívida com traços de um anjo barroco.
Respira fundo numa espiral de mistérios com o indicador da mão direita enrodilhado numa mecha cor de sol do seu cabelo. Sabia ela que muito em breve acordaria serenamente com os cabelos enrolados na carícia azul celeste dos divinos dedos dele.
(Edna Frigato)