mergulhei...
Mergulhei como ave de rapina.
Vejo-me a beira do rio. Pés na corrente das águas marulhantes, como raízes que colhem a seiva barrenta do fundo. Há uma canção submersa de almas. Uma brisa forte sacode a folhagem de meus cabelos. Algumas folhas caem no leito das águas. Cartas secretas. Leituras silenciosas. E de meu caule saem seivas sutis. Seixos cristalinos.
***
De repente, me vejo menina selvagem arrancando às dentadas a espinha inteira de um peixe que se debate ainda vivo em minha boca. Ele saltava diante de mim com olhos aflitivos. Eu, indiazinha de Tupã, irrequieta semente, andante da mata, trovejante na noite, ainda que faminta, não o devorei. Seu gosto era de amarga tristeza. Devolvi-o ao rio de fundos musgos e turvas águas...
Voltei, pois, ao meu esconderijo sagrado.
Alessandra Espinola