Vaidade da Sensibilidade
A vida é oca. Estamos todos num fundo-sem-fundo, caindo em ascensão no sobe e desce dos afetos. É um vazio com a alma dentro, em que rola perdido os sentimentos como grãos de areia no deserto cósmico. Feliz de quem não pensa, é destes a alegria corriqueira, dos homens de ação, os úteis à comunidade, cultivadores de doses mínimas de prazer.
Ao homem de sensibilidade não lhe importa a felicidade, os prazeres fúteis que, sem eles, estes homens se matariam ou causariam um inferno na Terra para terem diversão; pois, fazer sofrer dá prazer, por isso existe sociedade - para os entrete-los. Sim, esse homem pacato, bom cidadão, que trabalha todos os dias cansado de sua rotina, carrega na alma uma besta que precisa ser alimentada dia e noite com pequenas doses de alegria, ou a vida seria insuportável e a existência lhe pareceria um castigo - ou já é, mas o "domingo" alivia?
Que importa minhas dores e alegria! Faço versos dessa matéria misteriosa que extraímos da alma, vomito-me o sofrimento em letras para desprezar minhas fraquezas com êxtase de um louco que retira flama de sua alma. Minha incapacidade para agir tem por contrário uma sensibilidade aguda, que mede as coisas não pelo prazer que denomina, nem pelo sentido que aspira, mas sim, pelo amor de sentir a vida em todas as escalas da dor e alegria.
Viver é ser tudo de todas as maneiras. O que importa não é qualidade de vida, é a qualidade da percepção daquilo que vive - pois, que seria a vida senão nós mesmos!
Somos um vazio que nos contém girando na roda do dia a dia.
Um nada e um tudo.
Um firmamento e um fundo sem chão.
Infinito?