Sou um nada que é tudo
Sinto que estou o tempo todo procurando algo, tateando o céu com olhos que buscam sem saber o que, com a atenção perdida em coisa nenhuma, como quem está pronto para algo que vai vir, ou já está aqui, mas não é visto, não é falado, não é sentido.
Talvez seja o preço da natureza dado para quem não sabe viver e não se contenta em feliz-triste ser, e tem de criar o seu próprio saber para dar luz a uma nova alegria e uma nova tristeza, escrever com lágrimas e vísceras o próprio Destino no qual nos adivinhamos o futuro, como Jesus que o tempo todo sabia que morreria na cruz, um gênio e santo que entendeu a ilusão do mundo e o usou como parábolas para o reino de Deus que por amor pereceu, pois toda estrela perece de sua própria força, talvez como Nietzsche de orgulho pereceu. A estes é uma estranheza este mundo; a mim, que não sou gênio, nem sábio nem louco, sou eu, até a morte esse mistério me seguirá - tediosamente por cima das paisagens já vistas; na face monótona do comum e complexo de todos os dias; na verdade que aqui há e a incerta que está por vir; no incerto silêncio que só mostra o que é - sufocando-me num estrangulante sentido de conhecer tudo e nada, um nada que é tudo quando me olho o céu.
E quando de corpo eu nada for, então talvez eu seja tudo...
Nem renuncio como os santos nem me iludo como os gênios em sua grandeza,
e nem poderia...
Sou eu - tudo e nada, intermédio de mim mesmo