Sou um nada que é tudo

Sinto que estou o tempo todo procurando algo, tateando o céu com olhos que buscam sem saber o que, com a atenção perdida em coisa nenhuma, como quem está pronto para algo que vai vir, ou já está aqui, mas não é visto, não é falado, não é sentido.

Talvez seja o preço da natureza dado para quem não sabe viver e não se contenta em feliz-triste ser, e tem de criar o seu próprio saber para dar luz a uma nova alegria e uma nova tristeza, escrever com lágrimas e vísceras o próprio Destino no qual nos adivinhamos o futuro, como Jesus que o tempo todo sabia que morreria na cruz, um gênio e santo que entendeu a ilusão do mundo e o usou como parábolas para o reino de Deus que por amor pereceu, pois toda estrela perece de sua própria força, talvez como Nietzsche de orgulho pereceu. A estes é uma estranheza este mundo; a mim, que não sou gênio, nem sábio nem louco, sou eu, até a morte esse mistério me seguirá - tediosamente por cima das paisagens já vistas; na face monótona do comum e complexo de todos os dias; na verdade que aqui há e a incerta que está por vir; no incerto silêncio que só mostra o que é - sufocando-me num estrangulante sentido de conhecer tudo e nada, um nada que é tudo quando me olho o céu.

E quando de corpo eu nada for, então talvez eu seja tudo...

Nem renuncio como os santos nem me iludo como os gênios em sua grandeza,

e nem poderia...

Sou eu - tudo e nada, intermédio de mim mesmo

Fiódor
Enviado por Fiódor em 30/07/2017
Reeditado em 02/05/2020
Código do texto: T6069574
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.