Pensando em comunhão

Estou aqui presa pensando em comunhão com o tudo em sentir os cabelos do passageiro à minha frente não com as mãos mas na própria cabeça e entendê-lo por mais distante que pareça e perceber que o motor treme o chão treme o horizonte treme e várias todas pessoas percorrendo o mesmo caminho pra chegar em algum ponto e descer e ir jantar com suas famílias ou dormir com fome ou pedir uma pizza ou ficar de dieta e amanhã acordarão e todos nós acordaremos no mesmo dia em leitos diferentes e ainda assim nos imaginamos inimigos, todos no mesmo barco, todos no mesmo ônibus, todos no mesmo universo.

Pensando em comunhão com o tudo nem se busca compreender já que a compreensão é instantânea e absoluta não se pede explicações nem se perdoa porque se entende-se que há motivos para matar e morrer e há causas e condições pra qualquer coisa e tudo é compreensível e tudo é mutável e nada é

tudo está mas esse está é tão mínimo dura um segundinho o está é como estar no presente

( Texto espirrado inspirado a partir da leitura de Tu não te moves de ti, de Hilda Hilst)