VIA CRUCIS

Os pés na terra sentiam o calor do sol pelo calcário. O mesmo sol insistente que tentava em vão aquecer aquela tarde já escura, fria e morta. A única vida se esvaziava pouco a pouco, e a medida que andava jorrava pelos seus poros sangue e dor; o coração batia descompassado e sentia seus ossos cada vez mais frágeis, moídos pelo peso do madeiro e da indiferença. O caminho era longo, e o seu silêncio soava como grito aos expectadores daquela tarde infindável. Ao longe a estrada parecia não ter fim, os pássaros já não voavam mais, as árvores extremeciam com o vento forte que pairava abaixo de um céu cinzento, disforme e sem vida. Toda criação em luto esvaziava-se do brilho de si tentando iluminar um único ser que se movia passo a passo mudo, quieto e, apesar de tudo, pleno de amor.