Um vazio que não cabe em mim
Dia sonolento, quieta e preguiçosa,
se arrasta como uma mortalha a tarde estagnada num sentido de nada, de ausência, de fim; de um começo, de um sentido, uma eternidade paralisante, e solução para qualquer problema parece insolúvel...
Como um estrangulamento nas ideias, que tentam pensar ainda, não se sabe nada de nada, - nem o que deseja ou não deseja no instante - é um intermédio entre uma luta de coisas nenhuma, um abstracionismo de sentimentos que nem abdicam nem conquistam coisa alguma, uma luta que já chegou ao fim, e vencedor foi nenhum. É uma paranoia de que nada há senão eu...
... incompleto e perdido...
Vazio vazio...
Eu: mais solitário do que as estrelas, inquieto por'um vazio bafejante que se sente no incolor do ar como se fosse a boca aberta de Deus; sem mover, ouço sem piscar, fitando o chão, a começar o bulício das ruas que quase não se ouve a escutar baixinho pelos grandes espaços do vácuo-celeste-azul.
Estive o dia absorto numa sensação-nenhuma do corpo, como se a vida silenciasse e em mim incorpóreo, só restasse o coração batendo, os pés que se sentem a pisar, mãos que sacolejam, o peso todo do corpo e um apertar e soltar constante na cabeça como mãos fechadas se apertando; por fim, a vida mesmo que eu sou.
Sinto lutar contra a verdade que este tédio nebuloso vem sussurrar: - que tudo é oco até o mais fundo da raiz; que os sentimentos são cristais polidos já quebrados, que é um erro o ter nascido, e só não é melhor morrer, porque viver, ah Viver! - é uma mentira!
Durmo a vida enquanto sonho com a morte do que não há. Ou Tudo é Tudo, ou Nada é Nada! Em ambos os casos tudo é uma perpetuação de tudo e nada estrangulado no ser e não-ser que em mim formam esse vácuo, essas palavras nesta prosa que expressam quase nada.
É tudo uma mentira dos sentidos, bem sei! é por isso que só proseio sobre ilusão, nada há senão eu próprio a dorminhar a vida e nela esquecendo-me em uni-versos proseados.
- por que não morrer?
Esquecer é artístico e digno de inteligência.
Ora!
...até por que,
Já não estamos mortos?!
Contemplemos a passagem, então...