Recordação da minha mestra Nadir
Dos professores que eu tive durante a minha passagem pela escola, somente a dona Nadir, ficou na minha lembrança para sempre. Esta mestra humilde sabia ensinar com toda a cortesia o aluno mais burro deste mundo. Dona Nadir não visava somente o dinheiro do aluno, ela tinha preocupação também com o lado moral, com o respeito humano ao seu discente. Nos três anos consecutivos, estudei com esta docente amiga e inteligente e com ela aprendi muita coisa boa da velha gramática de Carolina Renó de Oliveira.
Dei-lhe muito trabalho e sofri bastante para entender certas coisas, embora eu tentasse com muito esforço assimilar tudo quanto ele me ensinava.
Hoje ainda tenho saudade desta escola humilde e, no entanto, tão proveitosa. Em uma sala larga havia uma mesa bem comprida na qual se sentava, em torno da mesma, uns quinze ou vinte rapagotes para aprenderem com todo carinho: História, Ciências, Geografia, Matemática e mormente, Português.
No meio de todo este elenco de rapazes, estava este humilde poeta Jaguaribano tentando também aprender alguma coisa nova. O meu entusiasmo era pela Língua ou pela Literatura, minha maior vocação.
Eu nunca desejei aprender a ciência dos números ou coisa parecida. Quando a nossa docente chamava-nos para resolver algum problema, eu ficava triste porque o meu desejo era ler e conhecer como o nosso José de Alencar tinha se tornado grande escritor.
A minha mestra teve muita paciência comigo em me ensinar provavelmente três anos ou mais. Quando cheguei a sua escola eu pelo menos sabia ler e escrever alguma coisa além dos outros. Dona Nadir como todos nós chamávamos, tem um lugar dentro do coração deste humilde homem de letras.
Eu não faço como fazem os alunos de hoje que não respeitam seus mestres tampouco a escola. Quero e tenho muito respeito por todo aquele ou aquela que ensina algo de bom. Quem não respeita o seu mestre, com certeza não respeita os seus pais e muito menos a outro ser humano. Culpa de quem o nosso aluno não respeitar o seu mestre? Sem dúvida a culpa vem da falsa democracia e da tosca educação que o Brasil sempre teve. Os pseudo-democratas desse Brasil amorfo nunca se preocuparam com ensino e muito menos com cultura, seja ela qual for. Por esta razão os nossos docentes não são nunca respeitados e nem admirados por ninguém.
O bem que eu quero a Padre Alípio Santiago, Gilmar de Oliveira, Raimundo Odete dos Santos, Ogarita de Ambrósio, é o mesmo que eu quero a dona Nadir, figura que sempre amei. O esposa da minha querida mestra era meu primo legítimo e grande admirador da minha poesia. Quando eu saia da nossa aula, passava uma hora ou até mais conversando com este parente materno. Durante a minha passagem por este centro escolar, fiz muitos amigos e aprendi muita coisa interessante que eu ainda não conhecia.
Dona Nadir foi mais uma amiga que eu fiz aos dezoito anos quando eu encetei a profissão de repentista e prosador popular.
Ainda tenho na ponta da língua os verbos que estudei com esta autêntica professora que tanto sofreu pelos outros, sendo muitas vezes pouco compreendida.
Gente como a dona Ogarita, dona Nadir e todos aqueles que dão um pouco do que sabem aos outros deveriam ser respeitados por todos nós e muito mais pela educação brasileira.
Antônio Agostinho