O VERBO TEM DENTES AFIADOS

Cada poeta-autor tem o seu peculiar e único âmbito de codificação, porque a criptografação do seu pensamento é um elemento intelectivo e sensorial de sua individuação, como criador artístico. Alguns são mais herméticos, outros mais derramados, com linguagem mais afeita ao gosto popular. Cada receptor – o poeta-leitor – tem o seu próprio patamar de entendimento e compreensão sobre o que lhe chega ao conhecimento, por ser este também um universo individuado. O decurso do tempo de leitura, o conhecimento amealhado e a decorrente possibilidade de maior intimidade com a obra do poeta-autor (eleito pelo leitor graças à sua sensibilidade e gosto estético) auxiliarão em muito quanto à compreensão do codificado universo do estro artístico autoral. Eu (e os meus alter egos em poética) assumo o grave defeito de ser castiço quanto à forma ou formato.Também, por vezes, no tocante à verbalização, consigo emergir do obscuro mergulho nalgum poço do hermetismo feito um peixe grande, com um pequeno ainda vivo, nos dentes. O Verbo sempre tem dentes afiados, mesmo que não sejam aparentes ao jovem e/ou inocente manipulador de seus mistérios e fetiches. O neófito mago, tardiamente, também poderá vir a ser o voraz predador, dependendo de sua fome, o universo de livros e o mundo real em seu redor. Como tudo aquilo que flui nos territórios da condenação à sobrevivência. Porque Poesia é pra comer e deglutir...

– Do livro OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02; 2015/17.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/6061745