O massacre dos inocentes.
Zaratustra ainda caminhará por mares dantes caminhados, percorrerá labirintos assombrados, sofrerá os açoites de uma noite sem luar. Presenciará o massacre dos pagãos, dos inocentes, a exterminação dos homens bons.
Em um tempo em que a maldade se tornou abundante na terra dos fora-da-lei, quando um reino das trevas subjugou a minoria, quando subiu ao poder um espírito do mal, para vencer e levar cativos os que não lhe prestavam homenagem, aqueles que não se curvaram à sombra do rei do sul, que não reverenciaram a coroa de ouro do clérigo das sombras.
Toda obra poderosa, toda criação gigantesca, todo credo, todo fenômeno emerge do povo; é das entranhas da multidão que nascem os rebentos que prometem redenção. No seio dos ignotos, de mil em mil anos surge um santo, um rei ou um profeta louco. Nas planícies gélidas do norte em um país distantes da paz, aconteceu um evento de impossível descrição. Quando chegou ao poder um tirano incomparável e fez ressurgir o terror, onde antes houvera calma e abundante compaixão. Os poucos homens de bem, por bem partiram sem sorte; entre outros, os que ficaram, conheceram a mão da morte.
Zaratustra soube cedo, dos clamores rumo norte, partiu sem nos deixar pista, e velejou a galope. O mar agitado e denso oferecia má sorte. Que sorte pior teria se em tempo lá não chegasse? Crianças seriam mortas a golpe de aço forte, mulheres escalpeladas nas barbas dos seus consortes. Mães lamentando a cria que ao mundo não trouxera, velhos sob juramento implorando à besta-fera. Todavia, em curto tempo, o mar se tornou volátil e vento um companheiro. Zaratustra chega a tempo de viver outra aventura, de mudar mais um destino, para dar aos pobres um mote, um tema como poema que remove do túmulo a morte.