"Pecador (a) confesso (a)"

“Quando eu morrer, escrevam na lápide, que em cor de rosa deverá ser, para que em mim visualizem: aqui jaz a rosa, que em mal-grado murchou.”

         
Temo a morte, como a quem teme o encontro com o próprio desterro, deste ermo e temível lugarejo, onde somente há o vazio. 
        
       Não temo julgamento, pois me julgam continuamente e em perjúrio condenam-me. Levanto-me com a mesma intensidade em que caio. Feridas, cicatrizes e escoriações não me causam dor, mas apenas lembranças.
          
       Os anos que se passaram, já não mais insistem em voltar: acalmaram-se no meu esquecimento, nem a infância regressa causa-me contentamento, apenas uma saudade-cobiça.

       Os que vêem, já não mais me incitam, amortizam. São penitências, confessas e jamais arrependidas.

       Não me redimo de atos executados sob o exercício do amor, são benévolos. Àqueles atos, nomeados errôneos e injustos, pelo discernimento do homem, devo apenas o meu pesar, mas estão feitos, portanto irreparáveis. Será? Sim, eu os fiz e somente a mim cabe julgar.

       Daqueles outros tantos que não cometi; pecados vis: escondam-se ainda vivo! E se vivo, comete-los ainda posso. Há outros tantos que, comedida observo, penso e desisto.

       Pecados são sete ou setecentos? Perdões são eternos. Antecipa-los ou prevê-los?

       Não sei, mas eu os cometo.