Miragem
Não tenho necessariamente um olhar, tenho sim algo vago e inútil, como um farol apagado. Minhas alegrias já se foram, ou até mesmo nunca existiram, afinal, boa parte da minha alegria foi inventada, forjada por minha criatividade absurdamente doentia. Talvez meu olhar nunca tenha existido. Vou rumo ao nada, carregando mil quilos de caos instalado em meu peito desde o tempo que o tempo ainda não era tempo. Pode ser que meu olhar ainda torne a existir, entretanto, isso pode ser ainda mais inútil, pois vivendo nas sombras há mais de três décadas, creio que já perdi a capacidade de enxergar através de um olhar, o máximo que conseguirei, provavelmente, será enxergar uma miragem por detrás da retina, e sequer poderei afirmar ser uma miragem, afinal, sou completamente inválido, até que a eternidade se acabe.