A ilusão do sonho civil

Se paro e observo minha vida do abrir dos olhos ao fecha-los pra dormir a noite, noto, - não sem perturbações - que tudo quanto tenho buscado na vida é uma forma de satisfação permanente, algum sentimento ou a lembrança de um sentimento bom, que perdure; paz duradoura; conforto no conformismo, o não precisar esforçar-se para nada, desde o pensar à ação física! - as crenças também são subterfúgios; o prazer que acompanha; um tempo que nunca passa; establidade e segurança.

E, em instantes como esses em que minha vida se me mostra como coisa viva e ignorante no espelho da compreensão, não sei o que quero nem o que penso. Um vácuo que preenche o mundo ensurdece os pensamentos, pairando como uma nuvem apenas a dúvida em sensação: O que quero da vida?

Nada escuto senão a voz dos músculos faciais estalando se contrairem num bocejo automático; a indiferença corporea animal! o ter que dormir a vida porque a vida chama pra deitar! Amanhã, um novo dia. Os mesmos hábitos, sonhos, pensamentos e delírios. O sonho social! O bom civil... O amanhã!

Que amanhã? ah! a segurança e estabilidade?

Ô pobreza herdada da modernidade!

Mas, nada importa afinal. Comecei estas anotações falando de uma coisa e perdi-me no sentido que eu ia pensando. Penso distraidamente, como um bêbado tropeçando. Ainda bem que esqueço. Assim esqueço a vida enquanto penso proseando...

Fiódor
Enviado por Fiódor em 11/07/2017
Código do texto: T6051250
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