Recriei-me depois dos cinquenta
Cheguei a uma etapa da minha vida,
Em que tenho dias e dias, ou dias…
Que saudades do tempo em que os meus dias,
Eram preenchidos pela alegria e pela energia…
Pela algazarra dos risos do meu filho e sobrinhos,
Pelas conversas fiadas dos cunhados e irmãs,
Dos amigos do coração, do marido, pai e da mamã…
Não sabia o que era ter um dia instável,
Para mim o tempo até corria depressa demais
Por vezes receava não ter tempo e queria mais…
Hoje, estou numa nova etapa da minha vida,
Etapa da maturidade, pois passei os cinquenta,
E pensei que seria uma etapa de viver a vida
Com mais tempo, mais emoção, sem oito ou oitenta…
Mas meus dias não são mais assim, são cinzentos, são instáveis,
deixaram de ser um jardim de flores perfumadas e jasmim,
Agora são cardos e com espinhos, devo precisar de água benta…
Agora que tudo podia ser melhor, o filho está adulto e encaminhado,
Que a vida podia ser vivida com tempo, eis que a dor chegou e tudo arruinou…
Passo dias tristes e em sofrimento, no corpo o latejamento da dor
constante, moedeira, sem amor, remete-me para profundos silêncios,
em que não quero falar, nem ouvir, só minha dor num canto carpir …
Quando acabarão estes dias perguntava eu, alguém me responde? Ninguém respondeu... Muito mais tarde somente senti em mim uma dor mais profunda, que me tirou o fôlego da vida por instantes,…
Um calor senti dentro de mim e quando dei conta, parecia uma fénix das cinzas a renascer... Uma luz me envolveu, um par de asas me acolheu,
uma Voz se me dirigiu, a dizer que a vida não é só cor, e que quando Deus nos criou também nos deu a dor, e que na dor há a alegria de crescermos, e de enxergarmos, o que antes não conseguíamos ver ou alcançar, e que tinha de aprender a com ela viver e a controlar…
Hoje, nos meus dias mais cinzentos, por mais insensível que me possam achar, a dor está em mim, e vive comigo, mas deixei de me lamuriar, recriei-me e arranjei maneira de com ela conviver, mostrando-lhe a minha inesgotável paciência, e a minha sabedoria para a amenizar, acabando algumas vezes por a desprezar!
E quando acaba o meu dia cinzento, despeço-me dele agradecendo e sorrindo, numa prece a Deus Pai, porque acabei com Sua Divina Mão a luta contra a DOR vencer...
22/ 09/ 2015