Ainda que eu quisesse ferir algum ser, eu seria mais ferida que o ser escolhido.
A depressão instalada é densa e sombria. Aprendi a administrá-la ao ponto de sobreviver a ela.
Conquistei minha paz atravessando muitas vezes oceanos desertos.
Há para mim, duas etapas; na primeira foi possível adaptar-me à outra pessoa, na segunda, quando assumi minha vida adulta, compartilhar minha intimidade e privacidade, tornaram-se opcionais.
Fiz a minha escolha. Escolhi minha companhia, eu me dou bem comigo.
É comigo que discuto, brigo e faço as pazes.
Não suporto mais a ideia de dividir hábitos.
Estar a só comigo não é um fardo; é um prazer complexo demais para ser atingido; foi e é uma conquista ininterrupta.
Parece ser mais cômodo ser dependente emocional de outra pessoa, porém, é uma fuga desnecessária à mim.
Não é simples tolerar-me, mas quando consegui, ah! Abri todas as minhas portas e janelas e permiti que todos e tudo que lhes pertencia, saíssem com o vento.
Curto minhas teias de aranha, que são longos fios de algodão-doce, aquele que pedi, mas que nunca ganhei.
Hoje escolho a cor e o sabor que quero degustar.
Nada que possa ganhar, poderia ser mais saboroso e nem mais belo.
O meu arco-íris, meu algodão-doce e meu balão, têm minha marca registrada no meu eu profundo.
Há a possibilidade de aceitar outros sabores e cores, mas é uma opção minha.
Então eu posso dizer que eu me amo. Amo-me tanto que posso brigar muito comigo, porque somente o amor permite reconciliação.
Tem um certo charme démodée no frasco do meu Cabochard que não uso, tem um dengo no maço de St Moritz que guardei fechado, há uma nota curiosa na capa do CD que permanece embalado e tem aquele vinho lacrado há anos.
O que importa é que marquei a data para fazer o necessário com tudo que guardei.
Há uma precisão inadiável na cerimônia agendada criteriosamente.
Preciso derramar o meu amor sobre o jardim que preparei e cultivei por muito tempo e que depois abandonei por tempo demais!
Eu preciso ser chuva sobre o meu jardim; ele precisa florir novamente.