Ódio cravado no próprio peito
A podridão que exala de você, o veneno que escorre de seus dedos para as teclas do celular ou do computador, o desejo insano de fazer jorrar sangue com punhais de palavras, a repulsa, a raiva, o desprezo, a cusparada pobre e copiada do escarro alheio; isso tudo é você diante do espelho.
O ódio sem saber por que, o ódio que se torna mais odioso por ignorar o porquê, é uma automutilação viciante – quanto mais ferido mais quer ferir. Imagina que jogando pedras em todos que escapam do padrãozinho que aprendeu ser o correto, lava a alma da própria sujeira e cura as próprias feridas. E a ojeriza cresce por não entender que é justamente isso que abre ainda mais as suas chagas.
Se vencer a covardia e olhar a cara crua, sem máscaras, poderá ver que os cuspes que arremessa ao outro lambuzam você. O ódio alimenta o seu monstro. E seu monstro repete a água do mar: quanto mais dela se bebe, mais sede tem.
Se mergulhar na imagem do espelho, talvez veja, encolhido em um canto frio de seu interior, um ser amedrontado, fugindo sem saber para onde. Sem a pele falsa que veste todos os dias, verá em si mesmo nada além de um humano, sem certezas, sem escudos. Tão imenso e tão diminuto quanto todos aos quais destila o seu ódio.