Manhã tão linda de inverno, o vento alíseo, hoje fraco, chega assim como não quer nada e nos invade, deixa  uma sensação de ares dos Alpes. A limpeza no céu azul de infinita imensidão, sem nuvens, atrai o olhar e lá mais adiante os passarinhos passam voando com pressa. Vão em busca de alimento e querem voltar logo a seus ninhos. Eles também sentem a temperatura e suas asinhas singram o mar azul, como barquinhos em competição de velejadores olímpicos.
Lá no horizonte ou melhor, desde lá, chega o sol que resplandece. Como todos os dias, envia seus raios, mas ainda não aqueceu o suficiente esta paisagem toda.
Sigo o caminho de sempre. Como os passarinhos tenho uma missão e não importa o tempo, terei de cumpri-la. Gosto desse tempo que faz-me recordar infância, levantava cedinho para ir ás aulas e pelo caminho íamos observando as plantas nas alamedas. As árvores com seus galhos quietos, mal dançavam sob alguma brisa, o silêncio matinal era completo, a relva sempre verdinha era gelada , mantinha algum resquício de orvalho da madrugada. Ao longe, o casario da fazenda com suas telhas vermelhas e alguma fumaça ou vapor dos que tinham fogão a lenha, mostrava que ali já estavam despertos. Continuava o caminho com duas amiguinhas, éramos crianças de sete a nove anos, felizes a conversar, a escolinha era perto, bastava pegar o rumo do grande açude e subir uns quinhentos metros numa estradinha toda de terra batida e ladeada de muitas árvores, tipo acácias e flamboyants, além dos cinamomos que eram a marca registrada do local. A recomendação era sempre repetida: nada de parar ali, prossigam na trilha e não cheguem à beira da água. Eu observava muito as amigas árvores, sabia que no inverno as folhas caíam e preparavam em magia o momento de brotarem. Era a recepção à nova estação e logo coloriam meu mundo bucólico. Hoje, recordo mais que nunca esses fatos. Era época de ter meu pai, ficava de longe nos vigiando, embora ali não houvesse perigos eminentes. Agora que ele se foi para sempre, caminho em saudade, vou ficar ao lado de minha mãe que precisa do carinho maior dos filhos agora.  As antigas amigas- não sei onde andarão- mas o cenário é quase o mesmo. Sinto no ar um perfume de outrora, forte ainda e que me dá forças para prosseguir. Preciso dessa meditação, desse canto do novo dia, desse encanto e magia da natureza a abençoar meus passos. 

Foto da autora



Cinamomo





06/07/17
Marilda Lavienrose
Enviado por Marilda Lavienrose em 06/07/2017
Reeditado em 07/07/2017
Código do texto: T6047081
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