Enquanto os olhos do mundo estão no bebê que acaba de nascer,
a mãe da mãe enxerga a filha, recém-parida.
O papel de avó pode esperar, pois é a sua menina que chora,
com os seios a vazar.
A mãe da mãe esfrega roupinhas manchadas de cocô,
varre o chão, garante o almoço.
Compra pijamas de botão, lava lençóis sujos de leite e sangue.
Ela sabe como é duro se tornar mãe.
No silêncio da madrugada, pensa na filha, acordada.
Quantas vezes será que foi?
Aguentará a manhã com um sorriso?
Leva canjica quentinha e seu bolo favorito.
Atarefada, a mãe da mãe sofre em silêncio.
Em cada escolha da filha, relembra suas próprias.
Diante de nova mãe, novo bebê, muito leite e tanto colo,
questiona tudo o que fez, tempos atrás.
Tempo que não volta mais.
Se hoje é o que se tem, então hoje é o que é.
Olha nos olhos, traz pão e café.
Esse é o colo, esse é o leite.
Aqui e agora, presente.
A mãe da mãe ajuda a filha a voar.
Cuida de tudo o que está às mãos para que ela se reconstrua,
descubra sua nova identidade.
Ela agora é mãe, mas será sempre filha.
Toda mãe recém-nascida precisa dos cuidados
de outra mulher que entenda o quanto esse momento é frágil.
A mãe da mãe pode ser uma irmã, sogra, amiga, doula, vizinha, tia, avó, cunhada, conhecida.
O fato é que o puerpério necessita de união feminina,
dessa compreensão que só outra mãe consegue ter.
O pai é um cuidador fundamental.
Comanda a casa e se desdobra entre mãe e filho.
Mas é preciso lembrar que ele também acaba de se tornar pai,
ainda que pela segunda ou terceira vez.