Bode expiatório
Por minhas mãos passa a fuga dos problemas, não apenas dos meus, mas dos deles também. Minha cabeça pendula na tentativa de escamotear o que para uns é o mal do século, para outros é água que mata a sede de fugir, (não) ser, (não) existir. Sou o carrasco que puxa a lâmina da guilhotina cada vez mais alto, escondendo-me sob o manto do pseudo-livre-arbítrio. Sou fonte de energia, de relaxamento, de excitação – por minhas mãos passa a ilusão irresistível e cruel da felicidade destrutivamente temporária. O que me ocupa e me mantém é a falta de amparo aos que de mim dependem. Sou a serpente do Éden, o demônio da mente, o convite macabro ao salto no abismo. Querem meu sangue, mas não querem minha salvação. Trafico.