Náufragio em terra firme
Quando finalmente ela pensa estar no caminho certo, de repente aparecem várias bifurcações a sua frente. Assustada olha a sua volta e não reconhece mais a paisagem.
Mecanicamente o corpo dá um giro de 180°. Aterrorizada ela percebe que atrás de si tudo está escuro e frio. Dos olhos receosos brota a dor, uma dor quase pueril de criança que se perdeu da mãe em pleno parque de diversões.
Em uma das mãos traz a tão cobiçada maçã do amor, na destra uma nuvem azul de algodão doce escorre pelos dedos trêmulos.
O vento da dúvida bate forte em seu rosto e a culpa é inevitável. Qual foi o instante, o ponto nevrálgico em que um único passo mudou o seu caminho? Em qual momento o relógio do tempo trocou a hora, o bilhete da viagem sem que ela se desse conta? O coração aperta e se torna tão pequenininho, tão frágil e assustado que mal se ouve suas batidas.
A morte sorri pra ela em tom jocoso. Com desdém estende-lhe as gélidas mãos e, em meio a essa convulsão de pensamentos instintivamente ela as segura com toda a sua força, como se fosse a única opção de um náufrago em pleno oceano.
Devagarinho deixa-se sucumbir ao peso do próprio corpo. Num ato suicida involuntário entrega-se em oferenda a Cronos.
Lentamente os sentidos vão sumindo até que ela e o pó do irreconhecível caminho se transformam numa coisa só.(Edna Frigato)