Vida Entoada Sem Afeto
Busca meus olhos o apelo que o ouvido remete , desatino de vidas, lamentos sem as vozes, amordaçados, que ecoam disfarçados de vento, almas que vieram para viver e não estão.
O latido do cão, o miado do gato, o som lamurioso que a coruja solta, do carro na serrinha, do engate, da marcha do carro virando a esquina. É noite.
Lamento sem voz, silêncio da gente cansada que deita o corpo para o descanso, que não vem, não tem.
Hiato, pausa do dia, giro da terra, sol que logo aparece no início do matutino, relógio chama.
Os olhos estalam, o chamado, o som, sonoridade sem afeto, que leva a cantiga tocada para a dança capital da menos valia acontecer. Movimento do corpo, moinho do vento que gera, troco, permuta do lucro que é buscado a qualquer custo, para suprir, barriga vazia, cabeça vazia, gente sem uso da mente, pedindo dinheiro para suprir, barriga vazia, cabeça vazia, gente sem mente...gira, gira, gira.
Ó afeto!ó afeto! se foi! Do rosto colado, das juras de amor, do beijo ardente, correio elegante, carta selada, das cordialidade e etiquetas para o flerte, acabou, sonoridade que não vem, não tem mais.
A noite escura, tenebrosa manhã que a todos aguarda, sem o afeto. Lei do ferro, do aço, do chumbo, da bala perdida, do álcool, alambique, da pedra de crack, do baseado, anestesiando a dor, endurecendo, calafetando as fendas para não ser, não ter que viver, nisto. Sombras, sobras, vultos de gente, que se foi, cascas de gente, coisificadas, foram, não estão mais, pisam no sagrado na ignorância, não enxergam.
Carcaças que perambulam, indiferentes ao miado do gato, do latido do cão, do som da coruja, do carro na esquina, foram.
Nem em cima nem embaixo, nem no céu, nem no inferno, não importam mais, mundo paralelo, perdidos, esquecidos no Universo. Zangou.