Evaporo-me
Quantas vezes caí e depois levantei?
Pergunto-me então, em quantos desses tombos quem saiu a caminhar foi carcaça enquanto a essência ali ficou, jogada pela rua, sangrando nua sob a luz da Lua?
Quantos tropeços não foram em meu próprio ser, que encontrava-se no chão, amontoado?
O que move essa pesada peça enferrujada?
Parti tantas vezes, em tantos lugares, em meio a frações do tempo... Então, o que respira? O que pulsa?
Quanta água pingando desse vaso rachado? Enxerga as poças pela estrada? Compunham-me. Refletem o céu, mas estão no chão. E agora evaporam.
Quantas gotas ainda restam dentro de mim?
Quanto falta para sumir, por fim?
Veja: carcaça,
Máscara.
Apenas ausência.
Onde ficou a essência?
Esparramada pelas calçadas.
Aquela casca levantou-se e pôs-se a caminhar
E lá a deixou, no bueiro a derramar...