Indulgência de felicidade
Caçamos, procuramos, investigamos onde encontrar a felicidade, por vezes em bens materiais, carros, motos, roupas ou mesmo em viagens a paradisíacos lugares, inicialmente sonhando com publicidades compartilhadas nas redes sociais, marcamos os amigos e os conhecidos, sonhamos e desejamos, decididos, a experimentar uma fração do que já parece sê-la.
E, de repente, quando lá chegamos e alcançamos o que até pensávamos não conseguir alcançar, estranho, descobrimos que tudo o que agora vemos ou temos, tudo aquilo, ao vivo, em pessoa ou objeto, desperta uma emoção tão vazia e passageira, que nem parece estender-se muito mais do que aquela do momento em que a vontade nascera; dura tão pouco quanto uma curtida, um elogio ou menos, e tantas vezes se torna, na realidade, uma indulgência de felicidade num álbum de fotos que um dia como felicidade encontrada exibiremos.
É quando, por fim, perceberemos que parece nos ter sido imposto que a felicidade residia no estar ou no ter quando, na verdade, ela se encontra no ser. Porque tantas vezes, um filme ou uma série dentro de casa, um passeio no parque com a pessoa certa ou mesmo uma praia em nosso país (chegando num carro popular financiado), em estado de verdadeira felicidade, vale muito mais que um Natal em Paris.