COTIDIANO

A vizinha do lado,
Se agita, grita com a mãe,
Grita com os cães,
Grita com os filhos,
Que gritam entre si.
O vizinho do outro lado,
Para não perder o costume,
Ouve um funk desgraçado,
No ultimo volume,
Para variar a sequência,
Coloca uma sofrência,
Grita mais do que o que se diz cantor.
No fundo, um construtor,
Levanta poeira,
Liga isso, liga aquilo,
Bate, rebate, ressoa,
Fala mais do que lavadeira,
Grita com outra pessoa,
Ô jumento, acabou o cimento.
Eu...? até que tento, mas, não aguento,
Também perco a postura,
Recepciono a loucura,
Coloco o disco da banda Sepultura,
Grito; balanço a cabeça,
Viro as entranhas às avessas,
Ofereço cura ao meu momento.
E no fim, tudo nos trilhos,
Tudo certo,
Na paisagem de concreto,
Mesmo estando errado,
Cada um com os seus danos,
Vida que segue... segue o cotidiano.