Voos sobre abismos
Por dentro fragmento-me:
Parte flor, parte espinho
Faz-me amor, parte-me a dor
Morada da saudade, abrigo da ansiedade
Torno-me asas, transformo-me em água
Um lado é chama, o outro é de cinzas
Ora respiro esperança, ora afundo-me em angústia
Face de luz, aquela que se aquece com o brilho das estrelas e face de sombra, aquela que congela no frio das incertezas
Ocupa-me o caos, condena-me o vazio
Uma se desfaz em lágrimas enluaradas, a outra destrói em tempestade de raios e trovoadas
Em um momento canto a tristeza e no outro grito a vida
Metade de mim dança, a outra paralisa
Esse pedaço floresce, aquele anoitece
Parte é ser e está presente, a outra é só e pó, já foi, ausente
Aqui os cacos, ali o casco
Esse lado transborda ao toque do sol , aquele seca em seu abismo profundo
Peço ao tempo que me ajude com as metamorfoses da vida e ilumine meus cantos escuros para que eu seja inteira, para que me reinvente. Chegou o momento para ser outra.