Perfeccionismo: O Muro Branco

Maldito seja! Parece que não vale meu esforço, sempre estais riscado. Trata-se de uma imagem minha, um tormento. Meu e de mais ninguém. Está toda vez em que acredito haver chegado a um bom ponto em vida, quando tudo é perfeito, o muro então está branco; de repente, um risco. Assim, do nada, sem mais nem menos, um risco!

Eu me esforço, vou lá e cubro a maldita mancha, mas sempre saberei que por cima o relevo já é desigual. Não está mais perfeito! Então vou eu, derrubo tudo e inicio outro desde o princípio. Mas parece que na ansiedade do último tijolinho, o balde despenca e deixa uma trilha enorme em meu muro branco. Não! Não pode ser assim! Tem de ser branco! Impecavelmente branco!

Ergo então mais um, o terceiro, depois de derrubar o segundo que não mais me satisfazia. Estou cansado, e minhas mãos tremulando. É tudo pela perfeição. E lá está ele, esguio e frondoso, um belíssimo exemplar, parece que consegui aqui, e mesmo a vista turvada se impressiona.

Ao fim, sento-me ali, no chão desnivelado; não reto como deveria, desnivelado este incompetente! Mal percebo que, pelo cansaço de minhas mãos, meus últimos tijolos talvez estivessem carentes da massa devida, frouxos. Assim como toda a estrutura torta e encarquilhada que, num estrondo, decaiu sobre minha cabeça.