O Texto e a Fotografia
Um texto é como uma fotografia. Uma captura de um estado de espírito que talvez possamos nunca mais voltar. Uma paixão intensa que se inflama na folha e ali se eterniza, para acalmar do lado de fora. Um momento belo que, no medo do partir, se garante à imortalidade.
Aqui o que há se vai. As impressões, as vontades, as admirações e até mesmo alguns dos valores são voadores. Mas não lá. Não no que há de branco e enigmático. Por isso talvez o enigma. Deve-se esperar o mínimo de desafio na busca pelo imortal. A espera vã do que não se vai.
As desilusões talvez sejam o que mais deem valor ao papel. Como podem até os muros mais rijos desmoronarem ante aos olhos ingênuos. São quebráveis e, alguns, até "irreconstrutíveis". Nada aqui suporta o peso mórbido da ilusão. Lá sim. Lá o peso é outro. Pesam os desejos de aprisionar, de abarcar ou rasurar. Estes sim pesam, e talvez existam pela falta de compreensão ao nosso algo tão sublime.
O texto é como uma fotografia. Um retrato da alma que você talvez gostasse de guardar e proteger do fogo da realidade. Mostre-o, se quiser, mas guarde-o também, dentro, onde couber.