Por que leio tanto: ?
Por que leio tanto?
Qual a utilidade na vida prática todos estes livros espalhados pela cama?
Quando foi que comecei essa viajem? Sinto como se nunca tivesse começado,
e caí de paraquedas em mim...
O que em mim quer a vida?
Vive jogando-me de um canto a outro,
de livro em livro, como um sonâmbulo.
Sou eu me guio ou é a vida me sonhando?
Consigo evitar a busca pelo conhecimento? E para quê?
Ah são tantas dúvidas sem resposta!
De que adianta perguntar-me, se a dúvida é justamente minha! Sou como uma parede, muda, fria,
um surdo da própria língua, um cego para o que sou externamente...
Como a lua, eu só me vejo nos reflexos dos lagos da vida, sempre vacilante como as águas, cabaleante como imagens de ondas de sentimento!
Como poderia me saber se meu saber é pura dúvida! Que tolice!
E para que ainda teatreio perguntando?
Talvez, (assim dúvido) para quem saiba, eu me veja como sou, e entenda porquê de tanta dúvida. De tanta busca!
Como é inútil o conhecimento! Como é inútil tudo que sabemos!
Ah, que cansaço da alma e tudo ser como é! De ter os olhos pesados de supor que haverá sol e a vida amarela e silenciosa de todos os dias sorrirá amanhã! De que esteja tudo certo! E seja assim como é. E as gramas cresçam e o vento chie nos telhados, as mesmas palavras, e a vida de cada dia nos guiando...
Guiando...
Guiando os pássaros e as plantas, como todo vasto mundo de ficção criado pela imaginação do homem.
Como tudo é outra coisa que não o que pensamos e sentimos ser!
Dai-me, alguém, Alguém! - as armas para que eu possa matar(-me) essa consciência cética estranguladora de sonhos,
E ver o mundo como sentem os poetas românticos, em que cantavam à lua desejantes como se houvesse maneira de obtê-la...
Ó mãe! Por que viestes à minha consciência? Tu que para mim sempre foi o mais sábio dentre os mortais, com sua sabedoria simples de artista nobre, que suporta a dor de canto para só mostrar sorrisos! Dai-me as condições com que eu possa me iludir em vosso sentir, e ter a esperança do para quê eu leio tanto...