002. Estações.
"Eu já nem me lembrava mais da última primavera que vivi, quando os dias prometiam perfumes e brilho, e tudo ao redor era uma explosão de cores e sensações. E não importava para onde eu olhava, as coisas faziam sentido. Então veio o verão, e o calor dos dias acalentou tudo, incendiou tudo. E eu, que detestava verões, queria que aquela sensação continuasse para sempre. Contudo, assim como todos os excessos, o que foi feito para aquecer, queimou. Tudo foi às cinzas, e aquelas árvores tão bem cuidadas, inevitavelmente, perderam suas folhas. Suas folhas! Tudo o que eu era foi ao chão e desapareceu com o vento, reduzindo-se a nada. Foram dias de reflexão. Dias escuros e frios. Foi o outono e o inverno mais longos em vinte e quatro anos. Agora, há dois meses de completar vinte e cinco, vejo a primeira flor voltar à vida. E em suas cores, quase como um lembrete, vem cantando aquela velha frase conhecida "nunca somos, sempre estamos". Sim, tudo é ciclo, e nenhum outono, nenhum inverno, vem sem o intuito de prenunciar estações mais floridas."