Sobre telhados
Sobre telhas, sobrancelhas se mexem, no mesmo mover azul do globo ocular. Tanta vastidão tomada por paredes. Metrópole estendida em concreto, ferro e vidraças. Reluz o sol de faróis, arco íris de semáforos intermitentes. Ruas que se consomem de trânsito; becos que gritam desigualdades. O asfalto mastiga pneus; pessoas vivem labores e caminhadas. São andares apressados e andares construídos, sobrepostos para moradia. Os olhares se dispersam em tamanha selva de pedra.
A noite vem chegando e ofertando cama para a tarde; cobre-lhe com uma colcha de escuro. Sobre postes vagueiam estrelas. Sobre direções, se falam distâncias depois de construções. Andarilhos se encostam a cantos; e cantos se pendem no ensurdecedor movimento maquinário, quando todos se dedicam a voltar para a casa, no fim de mais uma jornada.
Há prantos e tantos prantos colhem tristezas. Há mantos e tantos mantos não cobrem frieza, daqueles que se fazem criminosos e daqueles que se fazem menos irmãos, dentro da vastidão tomada por paredes e telhados. Fica a visão voltada num pedaço de céu, onde a lua se desnuda crescente; levemente com pudores desavisados. A cidade se nota e tantas rotas para seguir à noite, que a noite prefere deitar na mesma cama ofertada à tarde e se cobre de estrelas. Receios e fascínio; delírios; e sobre telhas, sobrancelhas se movem.