Manhãs, cafés e rotina
Lembro das manhãs quentes antes de ir à escola, eram um sonho que eu não queria terminar. Eram um filme de romance, daqueles que não tem final feliz, sempre acabávamos separados. Com o toque do despertador, eu acordava. Acordava como outros bilhões de seres humanos: preso à rotina, à farda, ao café, ao mesmo caminho de ida volta. Todos os dias, por meses, por anos. E como um fantasma atormentado procurando paz, andava pelas ruas, pelos bares, por tantos lábios e quartos que acabei esquecendo do que estava em busca. Os conflitos dentro de mim se tornaram guerras silenciosas travadas numa mente à beira da insanidade, causadas pela falta de uma eterna fonte de álcool. E tudo isso acompanhava-me, sempre. E absolutamente nada foi diferente hoje. Os olhares e sorrisos, abraços e afagos; todos existem, mas é como se não estivessem aqui. Aconteceu o que eu sempre achara impossível quando criança, a vida deixou de ser uma brincadeira e tornou-se profundamente monótona. Igual, não importando para onde ou para quem eu olhe. E da minha eterna musa, a cama, restou apenas uma profunda saudade e o utópico desejo de um dia encontra-la novamente.