Idade

O mundo lá fora além de minha janela

Vibrando em cores, sons e vida

Parece me convidar a alucinar-me em suas luzes

Que rasgam pedaços de escuridão num céu impotente.

Mas isso não me atrai. Parece pouco, ou talvez muito pra minha idade.

Sento-me num velho sofá empoeirado

E lentamente vou sorvendo pequenos goles de lembranças

Vou acendendo uma angustia na guimba de outra

E então, lúcido e esclarecido, entendo; eu fui um dia.

Não o sou mais. Por isso o “lá fora” que fique por lá com seus atrativos.

Fui um monte de sonhos juntos e revirados jogados ao vento

Hoje, nem sonho nem vento sobraram

Fiz meus poemas em silêncio

Cantei pra mim

Musiquei minhas dores, meus júbilos e a vida de outros

Hoje, não há poemas nem canção. Só vida. Dos outros!

Nesse universo que brilha além da minha janela

Talvez eu fosse o céu escuro que resiste às luzes

E aqui dentro sou o próprio sofá empoeirado

Onde quase nunca ninguém repousa

Pois a camada de poeira é maior que a impressão de suposto conforto

E quando alguém se aproxima...

Não faz nada além de remoer os fantasmas internos.

A idade é realmente um perigo quando não se sabe usá-la

Paulinho Souza
Enviado por Paulinho Souza em 07/05/2017
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