Idade
O mundo lá fora além de minha janela
Vibrando em cores, sons e vida
Parece me convidar a alucinar-me em suas luzes
Que rasgam pedaços de escuridão num céu impotente.
Mas isso não me atrai. Parece pouco, ou talvez muito pra minha idade.
Sento-me num velho sofá empoeirado
E lentamente vou sorvendo pequenos goles de lembranças
Vou acendendo uma angustia na guimba de outra
E então, lúcido e esclarecido, entendo; eu fui um dia.
Não o sou mais. Por isso o “lá fora” que fique por lá com seus atrativos.
Fui um monte de sonhos juntos e revirados jogados ao vento
Hoje, nem sonho nem vento sobraram
Fiz meus poemas em silêncio
Cantei pra mim
Musiquei minhas dores, meus júbilos e a vida de outros
Hoje, não há poemas nem canção. Só vida. Dos outros!
Nesse universo que brilha além da minha janela
Talvez eu fosse o céu escuro que resiste às luzes
E aqui dentro sou o próprio sofá empoeirado
Onde quase nunca ninguém repousa
Pois a camada de poeira é maior que a impressão de suposto conforto
E quando alguém se aproxima...
Não faz nada além de remoer os fantasmas internos.
A idade é realmente um perigo quando não se sabe usá-la