Relatos da Cidade de São Paulo/1
Nas calçadas da Vila Maria,um morador de rua lia a Bíblia. "Amar ao próximo". Nos bares da baixa Augusta,as paredes dos banheiros vomitados gritam "mais amor,por favor". Na Avenida Paulista,o chão desenhado em confronto com a modernidade líquida. "Nenhuma a menos",disse a calçada. As paredes que pedem a legalização da liberdade em contraste aos grandes bancos choram e morrem com a epidemia de cinza. Na saída do metrô Tatuapé,outro morador, inebriado, cria e recria versos sobre o amor, enquanto um pequeno, tremendo com o inverno paulistano, denuncia:" roubaram o cobertor do meu pai". A Prefeitura não irá comentar o caso. Em Higienópolis,nas portarias das grandes verticalidades, bisnetos de pessoas escravizadas protegem a Casa Grande de seus senhores, taciturnos, alienados.
Na 15 de novembro,a bolsa de valores olha descontente para as famílias ouvindo o pastor na Sé,
"E Jesus",disse o pastor, humilde,humano,"ordenou perdoar 70 vezes 7."
Um menino, órfão, morador de rua, concluiu: faltou multiplicação ao paulistano.