Por dentro da noite
Noite que desce de alturas inimagináveis. Soa silêncio na quietude das estátuas. Cintilam estrelas vermelhas nos olhos dos cães. Passos vagarosos como se fossem eternos, daqueles que degustam a noite na sola dos sapatos. Olhos se movem para a mudez do tempo. E quanto diálogo tem pele e pedra, pés e ruas! ...
Vento que perpassa por entre fios de cabelos e faz morada na nuca, para contar segredos frios.
É interessante o escuro, pena que os faróis o intimidam. E a sutileza de anjos! E as aventuras claras, sensatas ou não, todas apenas vivendo, saltitando entre árvores e muradas e pensamentos. Noite que o sol deixou ser noite, indo embora. Que bom para o limo, daqueles que ficam guardados o dia todo na timidez que não queriam.
A noite mostra que a solidão pode se mostrar.
Há jardins transando brisas, oceanos dentro dos seres, batendo em ondas, nos rochedos da saudade. O tempo corre sem querer chegar. Apenas passa por nós; e todo dia ele passa e sorri nos deixando decadentes. Há barulho nas grades e no peito, vidros que se quebram, sentimentos que se estilhaçam. Sóbrio poder de acalanto no pedaço de papel que se move na calçada, saindo de um quadrado e caindo em outro.
Ébrio magnetismo do tecido que envolve a cintura de uma linda mulher que passa. E seus cabelos soltos que tocam a noite e fazem amor aos olhos colados em suas costas. Elegância é se fazer natural. Soa silêncio na quietude das estátuas... Noite que desce de alturas inimagináveis. E lá se vai, a linda mulher rebolando...