Instruções para se olhar pela janela
Sentada na parede oposta me coloco a pensar numa e a ver outra janela. De que janela falo, para onde quero ir? Reparo na disposição das janelas à frente. Em cada qual uma paisagem enquadrada. Em cada qual uma prévia visão de mundo material. Talvez, uma sugestão de mundo espiritual.
(A luz, quando em excesso, cega o que antes se fazia ver)
São cinco as possibilidades. E dentro de mim quantas são? O que escolho ver primeiro? De que importa a ordem das coisas? Permaneço sentada. A paisagem lá fora, para além das janelas, já é outra. A paisagem dentro da sala também já mudou. Eu, no entanto, continuo a divagar sobre a dúvida. Tomo a coragem e a decisão. Me levanto. Não escolho. Fecho os olhos e caminho. Tenho a pretensão despretensiosa de conectar minhas janelas internas ao que à frente se dá. A frente já é outra. Abro os olhos. Algo reflete o meu ser. Consigo ver no espelho algo que vai além da matéria. Um semblante.
(Já não posso ver. Hoje não é dia para isso)
Dou vários passos para trás. As janelas já estão mais próximas, aquelas primeiras. Escolho finalmente uma. Há que se escolher na vida para onde ir. Me debruço no parapeito. Minha janela interna diz que é hora de ser pássaro.